Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Fernando Pessoa
É lícito matar os pequenos deuses
Demolir seus altares de Artemísia
Incendiar suas roupas de nuvens
Inócuas, transparentes e frígidas
É preciso matar os pequenos deuses
Lavar a memória até derreter cenas
Os momentos em que foram quase
Quase deus, quase perfeição, quase…
É urgente matar os pequenos deuses
As arrogantes posturas de eternidade
O som azedo do vocabulário pútrido
Fala amorfa fluindo de livros mortos
É imprescindível matar os pequenos deuses
Em seus lugares plantar bambus e cerejeiras
Em cada vácuo há de brotar uma cachoeira
Água viva! Nunca mais suas ideias rasteiras
In: Forasteira (Bárbara Lia, Vidráguas/2016)
Coleção VentreLinhas | Página 71
Bárbara Lia é poeta e escritora paranaense. Vive em Curitiba.
Twitter: @barbaraliapoet